domingo, 23 de setembro de 2012

romeu e julieta




Três dias depois do fim, ainda permanecia inerte.Os pontos cardeais de nada serviam e a bússola repousava sobre a mesa, apenas como um objecto decorativo.Não sabia onde ficava o norte, mas isso  nada importava,pois queria ir para o sul.Queria ir para a casa que ficava no largo cujo nome havia esquecido, só a casa existia na memória, alta apenas o suficiente para que alguém morresse se de uma janela se despenhasse.A cobertura era um terraço donde se via o mar,ao alcance da mão, quase.

Num dos quartos havia bonecas de loiça e uma conversadeira, aos pés da cama.Na sala havia um piano sempre aberto, sofás vermelhos de damasco, e um quadro onde um romeu que não era montecchio tentava alcançar uma julieta que não era capuleto, num esforço nunca recompensado, porque eternamente estático.

Chopin saía do piano em nocturnos diurnos trazidos pelas mãos da pianista, outras vezes quem vinha era  Shubert, que depois de se ter apresentado ia para o  quarto da costura, onde todas as tardes se bebia um gorreana, acompanhado por bolachas maria com marmelada.

Ao fim dos três dias caíu a primeira chuvada de outono.Foi quando decidiu partir. Foi como estava, só as costas lhe doíam.