
No ano em que começou a guerra do Kuweit eu estava a passar férias em Sesimbra, num apartamento próximo do Castelo com uma vista espectacular para a baía. Eu descia a pé para a praia e por lá ficava até por volta das duas da tarde, sempre envolta na neblina que durante muitos dias por ali pairou nos primeiros dias de Agosto.
Embora não tenha por hábito ler na praia, naquele ano resolvi levar comigo a Simone de Beauvoir, que conhecia sobretudo como companheira de Sartre,dela só tendo lido um livro, de que aliás gostei bastante e se chama Uma morte serena.
Terá sido provavelmente essa lacuna que me levou a escolher por companhia o Deuxième Sexe, cuja leitura ao fim de algum tempo se revelou tão deprimente que o abandonei.
Devo ter parado a leitura no ponto em que escritora falava sobre a irreversibilidade da idade, segundo ela,a partir dos quarenta anos de idade, mais nenhum projecto de vida é viável para o ser humano, por falta de tempo de vida.
Sei, tanto por ter visto, como por ter vivido, que vamos fazendo projectos durante toda a nossa vida, podem ser projectos pequenos, como aprender a cozinhar, a nadar, a andar de bicicleta, mas todos sabemos que projectos grandiosos, como construir uma catedral ou esculpir um David, não são projectos ao alcance de todos, independentemente da idade.
Li recentemente uma notícia que dizia que o João Gilberto, o criador da bossa nova, agora com oitenta anos, se prepara para uma digressão por diversas cidades.
Não consegui deixar de sorrir, ao ler a notícia e pensei que, graças a deus, existem plantadores de nogueiras, com o que o mundo provavelmente continuará a girar...
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