terça-feira, 1 de novembro de 2011

Pão-por-deus

Todos os anos, no dia de pão-por-deus, o meu avô Luís ia visitar os netos, pela manhã e a cada um deles levava um brindeiro e um saquinho de tremoços. O brindeiro era uma espécie de papo seco, que as padarias só coziam no dia 1 de novembro e serviam apenas para brindes, daí o nome que, diga-se de passagem, não encontrei no dicionário que consultei. Mas era assim que eram conhecidos na minha terra.

Era sempre com alguma ansiedade que eu aguardava a chegada do meu avô, que costumava passar pela nossa casa por volta do meio dia, no final do seu périplo pelas casas das filhas, a nossa casa era a última que ele visitava, de regresso à sua.

Enquanto esperava por ele, eu cirandava pelo quintal e pela casa com um saco de chita a tiracolo. O saco era feito pela minha mãe, com tecido comprado de propósito, na bainha do remate ela enfiava uma fita de nastro, cujo comprimento ajustava à medida do meu tamanho. Depois de pronto,ela metia dentro dele uma fruta de cada das que havia na época, pero vime, anona, abacate,laranja, banana, nozes, figos, castanhas cruas e castanhas cozidas com sal, açucar, canela e erva dôce, às quais depois iam fazer companhia o brindeiro e os tremoços trazidos pelo meu avô.Era só no fim do dia e à hora de eu ir dormir, que o saco finalmente repousava, cheio de fruta esborrachada e de cascas de nozes.

Naquela bela história que todos nós lemos, o princepezinho pergunta à raposa o que é um rito, ao que a raposa responde que é aquilo que faz com que um dia seja diferente dos outros.

Não sei por onde andarão o meu avô e a minha mãe, mas se tiverem passado por cá hoje, devem ter gostado de ver a fruteira com bananas, maçãs,anonas,abacates e laranjas.As castanhas cozidas tiveram honra de taça de vidro, e os figos recheados com nozes estão sobre a mesa da sala de jantar,à espera de qualquer visita inesperada.Ao lado deles, também à espera, está uma garrafa de vinho do porto, Lágrima...

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